POSIÇÃO DE SOS RACISMO
A JUSTIÇA ILIBA ASSASSINO DE
KUKU LEGITIMANDO A VIOLÊNCIA POLICIAL E O RACISMO
A 5 de Janeiro de 2009, Elson Sanches foi assassinado, à
queima roupa, no Bairro das Lajes, na Amadora - por um agente da PSP, na
sequência de uma perseguição policial. Elson Sanches, mais conhecido por KUKU,
tinha 14 anos. Denote-se que, tal como tinha acontecido a propósito de outros
assassinatos – perpetrados pela polícia, em Portugal, como foi o caso de Manuel
Pereira (Toni) (2002) ou de Nuno Rodrigues (Mc Snake) (2010) – a sociedade e as
instituições em geral, nomeadamente a Justiça, demonstram que existe um
profundo racismo na sociedade portuguesa, o que oculta um debate sério e
frontal sobre racismo, violência policial e exclusão social.
As alegações finais do julgamento no passado dia 13 de
Novembro e a sentença lida hoje dia, 5 de Dezembro, revelam isto mesmo. Uma vez
mais – tal como quase sempre sucede – o agente da PSP que assassinou KUKU à
queima roupa foi escandalosamente absolvido. É muito revoltante que a morte de
jovens negros continue impune e que situação e mantenha marginalizada no quadro
da discussão pública e política.
É preciso romper com o silêncio ensurdecedor e conivente
das instituições em torno da intimidação, das agressões e dos assassinatos que
têm sido perpetrados estruturalmente pelas autoridades contra as comunidades
negras e as minorias étnicas. A justiça, do modo como tem actuado, tem sido um
dos principais (re) produtores de imaginários racistas dominantes e do consenso
social, conduzindo aos abusos, perpetuando ideologias e legitimando
relações de poder que oprimem os mais fracos/as da sociedade. É tempo de
questionar estes silêncios e como podem ser rompidos, para que se abra
finalmente a possibilidade real de se fazer justiça.
Nos bairros ditos "sociais" das
periferias das grandes cidades vivem as minorias étnicas e grande parte da
população mais pobre. O fosso das desigualdades que separa estas comunidades e
as exclui na sociedade, bem como a cobertura mediática estigmatizadora, a
escola pública que reproduz e reforça as desigualdades e a discriminação, a segregação
espacial que os/as empurra para guetos urbanos a inexistência e/ou escassez de
serviços públicos, são o reverso da mesma medalha que sustenta a violência
policial sistemática e generalizada contra estas comunidades.
A justiça portuguesa tem silenciado as vozes incómodas de uma comunidade, procurando, assim calar a longa indignação que tem
perdurado no decurso da História. Hoje as agressões policiais são a forma mais
visível da violência estrutural (material, psicológica e física) que atinge estas
comunidades. Os abusos policiais são a última cena de um filme bem longo, mas
continuaremos empenhados na luta pela justiça, pela igualdade e contra os
abusos policiais.
P’la Direcção do SOS Racismo
Mamadou Ba
Lisboa, 06 de Dezembro de 2012.
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