Nós podemos viver alegremente, Sem que venham com fórmulas legais, Unir as nossas mãos, eternamente, As mãos sacerdotais. Eu posso ver os ombros teus desnudos, Palpá-los, contemplar-lhes a brancura, E até beijar teus olhos tão ramudos, Cor de azeitona escura. Eu posso, se quiser, cheio de manha, Sondar, quando vestida, pra dar fé, A tua camisinha de bretanha, Ornada de crochet. Posso sentir-te em fogo, escandescida, De faces cor-de-rosa e vermelhão, Junto a mim, com langor, entredormida, Nas noites de verão. Eu posso, com valor que nada teme, Contigo preparar lautos festins, E ajudar-te a fazer o leite-creme, E os mélicos pudins. Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo, Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac, Hinos de amor, vestidos de veludo, E botas de duraque E até posso com ar de rei, que o sou! Dar-te cautelas brancas, minha rola, Da grande loteria que passou, Da boa, da espanhola, Já vês, pois, que podemos viver junto...